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Interceptação Histórica: Vulcan Britânico no Espaço Aéreo Brasileiro

  • Foto do escritor: Murillo Petry
    Murillo Petry
  • 1 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

Em 3 de junho de 1982, a Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentou um dos episódios mais marcantes de sua história. O que começou como uma manhã tranquila no Rio de Janeiro foi bruscamente interrompido pelo estrondo de caças F-5E Tiger II do 1º Grupo de Aviação de Caça, que partiram para interceptar um bombardeiro britânico Avro Vulcan que havia invadido o espaço aéreo brasileiro.


A narrativa remonta ao dia anterior, quando seis tripulantes do Vulcan B.2 XM597 decolaram da Ilha de Ascenção para a sexta missão da série Black Buck. Com o objetivo de destruir radares argentinos nas Ilhas Malvinas, a missão foi liderada pelo Squadron Leader Neil McDougall. Os britânicos estavam armados com quatro mísseis antirradar AGM-45 Shrike, adaptados especialmente para os bombardeiros nucleares.


Essas missões estão entre as mais longas e complicadas da aviação militar moderna, com a Ilha de Ascenção situada a 6.300 km das Malvinas. Os bombardeiros contavam com o apoio de onze aviões de reabastecimento em voo (REVO) Handley-Page Victor, que também transferiam combustível entre si para viabilizar a missão de 16 horas de duração.


Ao chegarem às Malvinas, os britânicos aguardaram até detectar o sinal de um radar argentino. Ao captarem um radar SkyGuard, lançaram dois mísseis, destruindo o alvo e iniciando o retorno para Ascenção. Durante o quinto reabastecimento, a sonda do Vulcan quebrou, impedindo a aeronave de voltar à ilha britânica. Com combustível insuficiente, a única opção era pousar no Rio de Janeiro.


O Brasil mantinha neutralidade no conflito, mas a situação era tensa na América do Sul. Apesar disso, a FAB havia fornecido aviões AT-26 e P-95 aos argentinos. McDougall traçou uma rota direta para o Aeroporto Internacional do Galeão, mas precisava resolver dois problemas: eliminar documentos secretos e se livrar dos mísseis antirradar restantes. Os documentos foram colocados numa lata de ração militar, pesados e jogados no oceano por uma escotilha a 43 mil pés, garantindo sua destruição. Os mísseis, no entanto, apresentaram um desafio maior. Um foi disparado, mas o outro permaneceu preso à aeronave.



Em contato com o controle aéreo brasileiro, os tripulantes do XM597, usando o código Ascot 597, relataram emergência e pouco combustível. Inicialmente, a entrada foi negada, mas sem alternativa, McDougall prosseguiu em direção ao Galeão. Simultaneamente, na Base Aérea de Santa Cruz, os capitães Raul Dias e Marcos Coelho, que estavam se preparando para uma missão de treinamento, foram informados da invasão e se prepararam para decolar em velocidade supersônica. Às 09h57, os F-5 4832 e 4845 decolaram, rompendo a barreira do som e gerando estrondos que estilhaçaram janelas no Rio.


Escoltado pelos F-5, o Vulcan realizou uma aproximação direta ao Galeão. Após o pouso, os caças retornaram a Santa Cruz, enquanto o Vulcan, com pouco combustível, sofreu uma pane seca e foi rebocado. O incidente gerou tensão diplomática entre Brasil, Argentina e Inglaterra. O Itamaraty, seguindo leis internacionais, reteve o avião e a tripulação por uma semana, permitindo sua partida em 10 de junho com a condição de que não fosse usado contra os argentinos novamente. A Argentina protestou a decisão.


O destino do míssil Shrike remanescente é controverso. Alguns dizem que foi estudado pelos militares brasileiros, contribuindo para o desenvolvimento do míssil MAR-1, enquanto outros afirmam que foi devolvido.



Quatro dias após o retorno do Vulcan à Ascenção, a Argentina se rendeu aos britânicos, encerrando o conflito. Tanto os aviadores brasileiros quanto os britânicos estão agora na reserva, assim como o XM597, preservado no National Museum of Flight, na Escócia, exibindo marcas de mísseis Shrike e a bandeira do Brasil.



O F-5 4832 foi perdido em uma colisão aérea em 16 de abril de 1985, resultando na morte do Capitão Waldemar Estevão Alonso. Já o F-5 4845 foi modernizado e continua em operação, mantendo-se como um legado da complexa e tensa interação entre forças aéreas durante a Guerra das Malvinas.



Avro Vulcan B.2 XM597 com marcações de missão e bandeira brasileira para marcar seu desvio para lá durante a Guerra das Malvinas.


O Museu Nacional do Voo é o museu nacional de aviação da Escócia no campo de aviação East Fortune, em East Lothian. O museu está instalado nos edifícios originais do tempo de guerra da RAF East Fortune, que é um dos campos de aviação mais bem preservados do Reino Unido. Como resultado disso, todo o local é um monumento antigo programado, sem estruturas permanentes adicionadas pelo museu. Na tela externa está o veterano da Guerra das Malvinas, Avro Vulcan B.2 XM597.


 
 
 

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